Reflexão - A Cultura

 

    A socialização refere-se à aprendizagem que um indivíduo faz dos traços da cultura e da sociedade em que vive. Trata-se de um processo de interiorização de atitudes, costumes, valores, normas e modos de agir característicos de uma comunidade, os quais tendem a ser reproduzidos pelas gerações vindouras. Na maioria dos casos, grande parte da socialização faz-se de modo espontâneo, sem nos apercebermos que os outros tenham a intenção especial de nos condicionar.

Existem dois tipos de socialização: a primária e a secundária.

- O processo de socialização primária decorre principalmente durante a infância e a adolescência, e tem por objetivo a aquisição de um conjunto de hábitos necessários para uma adaptação às mais diversas situações da vida quotidiana. Por influência privilegiada da família e da escola, a pessoa adquire hábitos de higiene e de alimentação, aprende a cumprir instruções, habitua-se ao domínio da linguagem, às regras de cortesia, ao convívio respeitoso, etc.

- A socialização secundária é o processo de adoção de novas atitudes e novos comportamentos que permitem aos adultos continuar a viver integrados na comunidade. Esta socialização ocorre a propósito de modificações no estatuto e nos papéis sociais dos adultos, ou seja, quando se dão alterações significativas na condição social das pessoas, tais como mudança de estado civil, nascimento de filhos, entrada no mundo do trabalho, início do pagamento de impostos, ser preso, ficar desempregado, passar à reforma ou ser eleito deputado.

    A definição de cultura é muito vasta, por isso a dificuldade em defini-la. Basicamente ela é a junção de ideias, abstrações e comportamento de um determinado grupo/sociedade. Desta forma, ela envolve tanto as relações materiais de um povo, como a sua habitação, transporte, indumentárias e adornos, alimentação e bebidas, instrumentos de produção e tecnologias; como aspetos imateriais, como conhecimentos (que lhes permitem a sobrevivência), crenças (o que acreditam), valores (indicando o que é “bom” e “ruim”), normas (limitam os seres) e símbolos (remete-se a significados), que orientam um grupo de seres para a ordem e vida em uma sociedade. Tudo é criado e pensado pelo próprio homem junto aos seus semelhantes (de forma coletiva), de modo que transforma a natureza, com objetivo de satisfazer suas necessidades de vida.

    Há uma natureza humana universal composta por grupos humanos particulares provenientes de nações, culturas, classe social e posturas diversas. Estes grupos igualam-se na sentimentalidade, na dor, valores e demais sentidos. Algo é natural desde que exista e se manifeste por uma necessidade independente da ação e intenção humana, assim como a gravidade rege corpos e objetos no solo. A natureza humana faz parte da “Natureza” em seu todo. A natureza é a ciência e a desencadeadora da funcionalidade dos ambientes e dos organismos vivos. Se a natureza humana é responsável pela existência da capacidade de chorar, pensar, sentir e sorrir no ser humano, dizer que o homem não pode chorar é uma contradição à própria necessidade humana. O ser humano não é construído somente a partir de sua natureza e sim a partir de comportamentos, identidades, modos e expressões formadas dentro de sua cultura e história político-económica e social.

    Uma criança, para se conseguir integrar numa sociedade, necessita de socializar. Uma criança selvagem, apesar de possuir os caracteres básicos que um individuo necessita para a socialização, esta criança não os desenvolveu porque o desenvolvimento das potencialidades hereditárias ficou atrofiado devido à ausência de estimulação social e humana durante os primeiros tempos de vida. Quando lhes foi apresentada, era já demasiado tarde para se desenvolverem as competências e se processarem as aprendizagens adequadas. O período de maturação das estruturas biológicas herdadas tinha sido ultrapassado. Pois o homem só adquire as características de verdadeiro ser humano porque a sua vida decorre no seio de um grupo social. É o convívio com os outros que lhe permite atualizar os caracteres geneticamente recebidos, ou seja, as suas competências linguísticas, cognitivas, afetivas, sociais e culturais.

    Existem variadas culturas pelo mundo fora. As diferentes culturas refletem as maneiras como as comunidades integraram os acontecimentos do passado, as necessidades de sobrevivência e as exigências do meio onde vivem. Todos estes fatores fazem com que as diversas culturas adquiram especificidades próprias, levando a uma diversidade cultural. Logo existe assim o conceito de padrão cultural, ou seja, um conjunto de comportamentos, práticas, crenças e valores comuns aos membros de uma determinada cultura. Os padrões culturais ajudam no enquadramento da construção de significados em muitos domínios da vida social. Não temos consciência da sua existência. A cultura exerce uma forte influência na forma como pensamos, sentimos e consideramos aceitável ou inaceitável. Por isso é necessário ter os padrões culturais em conta quando observamos os sentidos que as pessoas atribuem a comportamentos, atividades e objetos. Os padrões culturais mudam permanentemente.

    Pelo mundo fora existe uma diversidade cultural imensa, como podemos observar nos seguintes exemplos:

- O respeito pelos pais sofre flutuações geográficas. O pai conserva o direito de vida e de morte entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camarões e do Daomé. Em compensação, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos Kamtchatka (da Sibéria) pró-comunistas ou nos aborígenes do Brasil. As crianças Taraumaras (do México) batem e injuriam facilmente os pais.

- Entre os Esquimós o casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outros homens. No Ceilão (atual Sri Lanka) reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada.

    Concuindo a reflexão, a cultura de uma comunidade, a socialização enquanto processo de integração nessa comunidade e as normas e os padrões cujo seguimento permite tal integração são os fatores de ordem aprendida que nos permitem atualizar e completar a nossa natureza humana. São eles que nos possibilitam a sobrevivência e a adaptação aos outros e às condições do meio, e fazem com que possamos progredir na nossa realização como pessoas. No filme “O Menino Selvagem”, o rapaz não teve uma socialização, logo não possui características que o possibilitem viver em sociedade. Com isto podemos conclui que sem a cultura não seria possível, por exemplo, comunicar, não sendo possível viver em sociedade.

 


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